Page 6 - Boletim 2025 - ELF
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A experiência de uma análise implica, a cada vez, reinventar o
inconsciente. O analista en corps instala o objeto a no lugar do semblant,
no discurso analítico. O dizer da não-relação sexual é um dizer da ex-
sistência, que interroga a suposição de Outro, barrando-o. S(), letra como
borda ao buraco diz não haver acesso ao recalque originário. Escreve o
modo como o parlêtre foi afetado pela linguagem, já que a letra é suporte
material que pode produzir um permanente questionamento da transmissão
da psicanálise.
Caberia aqui fazer uma distinção fundamental entre esse "não
querer saber" implicado no inconsciente e a paixão da ignorância que
inviabiliza qualquer acesso do sujeito à sua divisão estrutural.
No contexto contemporâneo de uma proliferação de psicoterapias
e de formações ditas analíticas que se inserem no mercado dos saberes
– sem escapar, por essa mesma razão, da paixão da ignorância – trata-se,
como dever ético, de renovar a aposta na hiância do saber inconsciente.
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