Page 5 - Boletim 2025 - ELF
P. 5
O inconsciente ainda
E é deste fato que haja o inconsciente que
já no que ele [o analisante] diz, há coisas
que fazem nó, que já há o dizer, se nós
especificamos o dizer como sendo aquilo
que faz nó. (R.S.I., lição de 11/02/75).
De que maneira seguir depois de abordar na Escola – durante os
últimos quatro anos – as questões "a causa do desejo" e "o sexo é um
dizer"?
O inconsciente ainda nos faz voltar a Freud, às suas difi culdades,
seus rodeios, suas dúvidas, resistências, mas acima de tudo voltar à sua
convicção sobre esse conceito, que sempre o desafi ou e nunca abandonou.
O ditado do inconsciente forçou uma escrita e permitiu que ele pudesse
fazer de sua própria experiência, saber.
“Que o inconsciente tenha estatuto de conceito fi ca indissociável de
uma prática” (O desejo do analista, p. 43). O inconsciente é estruturado
como uma linguagem, mas mantém um ponto irredutível, o não-
reconhecido, unerkannt que se faz recolher apenas por seus efeitos.
Lacan diz em Télévision que a formação das cadeias signifi cantes
não é de sentido, mas de gozo-sentido (jouis-sens). E que não baseia a
ideia de discurso na ex-sistência do inconsciente. “É o inconsciente que
situo a partir dela – por ele só ex-sistir a um discurso”. (Télévision, p.517)
No seminário Encore, Lacan indica que “o inconsciente não é que
o ser pense, como está, contudo, implicado no que dizem dele, isso na
ciência tradicional. O inconsciente é [...] que o ser falando, goze. E eu
acrescento: e não queira saber nada, mais nada disso. E acrescento que
isso quer dizer: não saber nada de nada” (Encore, pp.223-224).
Enunciado este que implica uma série de questões, por exemplo: de
que ‘não querer saber’ se trata no inconsciente, articulado ao gozo e à fala?
Ao mesmo tempo, ainda no seminário Encore, Lacan fará a diferença
entre a linguagem e o que ele virá a chamar lalangue [lalíngua], apontando
que a linguagem “é feita de lalangue [lalíngua], é uma elucubração de
saber sobre a própria lalangue [lalíngua]. Mas o inconsciente é um saber,
um saber-fazer com lalangue [lalíngua]” (Encore, p.267).
Como articular, então, o dizer que faz nó – em meio ao blá-blá-blá
que constitui o cerne mesmo da experiência analítica –, o inconsciente
como “saber fazer com alíngua” e o “saber-fazer aí com seu sinthome”
que Lacan aponta como o fi nal de uma análise? Como lalangue [lalíngua]
se precipita na letra?
3