Page 45 - Boletim 2025 - ELF
P. 45
Psicanálise e escrita
trabalho com a suposição de que nosso
mecanismo psíquico tenha surgido de uma
sobreposição de camadas, na qual, de tempos
em tempos, o material presente na forma de
rastros mnêmicos sofre uma reorganização,
uma reescrita.
Freud, "Carta 52".
Não imaginamos a que ponto se rateia na
escrita. O lapsus calami não é primeiro em
relação ao lapsus linguae, mas pode ser
concebido como o que toca o real.
Lacan. O sinthoma
A partir do horizonte esboçado por Freud a respeito da escrita
pictográfi ca nos sonhos, Lacan destaca que o sintoma pode ser lido por
se inscrever em um processo de escrita. O aparelho psíquico freudiano
prenuncia a superfície de escrita que se produz na experiência analítica
se esta não se reduz à primazia do simbólico.
Se a verdade provém do real e tem uma estrutura de fi cção, isto
não quer dizer que a fi cção construída numa análise seja, a princípio, da
mesma dimensão fi ccional do campo das artes. A escrita que a suporta
vem de um lugar diferente daquele do signifi cante, é algo que tangencia
o real. A letra que aí se escreve faz borda ao buraco no simbólico e não
é da ordem das letras literárias ou mesmo lituraterrais. Trata-se de uma
outra escrita.
Como ensaiar uma articulação com aquele escrito obtido por meio
da caneta, teclado, pincel, estilete, cinzel ou mesmo pelo cinematógrafo?
Trata-se da tentativa – a partir destas manifestações no campo das artes –
de rastrear, demarcar na contingência, pontos de opacidade que sugerem
alguma aproximação ao real: uma certa passagem à escrita do que não
para de não se escrever.
Francisco José Bezerra Santos
Início: março.
Fortaleza/CE - Mensal, sábados às 10h30
Francisco José 22/03; Lorenna Souza 26/04; Carolina Marcondes 10/05;
Erick Costa 28/06; Angela Vasconcelos 19/07; Teresa da Costa 30/08;
Sabrina Ximenes 27/09; Rafael Lobato 18/10; Adriana Osterno 22/11.
43